Estruturação, mercantilização e espacialização nos primeiros 10 anos da fase contemporânea da Copa do Nordeste (2013-2022)
Anderson David G. dos Santos (UFAL – Edital Pibic/UFAL/CNPq 2022-2023)
O futebol mobiliza uma grande quantidade de aficionados, o que faz com que uma quantidade ainda maior de empresas fique interessada por alguma das esferas econômicas que marcam a sua prática. Este esporte popular traz, portanto, uma série de possibilidades de estudos para as Ciências Humanas e Sociais.
Araújo (2018, p. 18) identifica no esporte “um dos maiores geradores de identificação coletiva” a partir de “diferentes rituais, simbologias e linguagens”. Outros diversos autores mostram que um aspecto que mantém a paixão cotidiana é seguir os clubes, com Damo (2005) destacando que o ato de torcer se assemelha ao “pertencer”. Desta forma, os torneios interclubes são fundamentais para manter o futebol profissional masculino em funcionamento, em meio às contradições do seu desenvolvimento na fase contemporânea do capitalismo e frente ao seu histórico de desenvolvimento desigual também nessa esfera sociocultural.
Santos (2021) destaca três pontos de escolha de clube pelo torcedor: indicação da família; maior transmissão e cobertura pelos meios de comunicação; e momento do clube. Desses pontos, na disputa em torno do capital esportivo, clubes com maior investimento conseguem mais momentos de destaque, com títulos em escala nacional e internacional, o que mantém torcida e atrai mais, assim como, gera maior cobertura pelos meios de comunicação. Quanto maior uma visibilidade para o telespectador/torcedor, mais se gera movimentação de receitas. Porém, não se tratou de um processo “natural”, baseado apenas na competitividade.
Por um lado, é preciso considerar que a difusão do futebol pelo território brasileiro passou por peculiaridades condicionadas especialmente pela dimensão territorial do país, em comparação com outros da América do Sul e da Europa em que o futebol também é elemento cultural importante. Segundo Mascarenhas (2014, p. 145): “Verifica-se, então, um caso atípico, no qual o futebol penetra no território nacional quase simultaneamente por vários pontos desconectados entre si (os conectados com o exterior), como incursões independentes no movimento conjunto da difusão”.
Esse processo leva à existência de uma lógica de futebol profissional que se inicia a partir de campeonatos estaduais, com o primeiro torneio nacional surgindo apenas em 1959 pela necessidade de indicar clubes para a disputa da então criada Taça Libertadores da América.
Desta forma, os campeonatos estaduais construíram – já antes da criação de um campeonato nacional – grandes disparidades entre clubes e estados que, com raras exceções, perduram até os dias de hoje. Tal disparidade tem íntima ligação com processos de concentração de capital político, e sobretudo econômico, no espaço brasileiro (CAMPOS, 2020, p. 5).
Em tempo que, a partir dos torneios nacionais, há uma “clara predominância – no que tange a participação nos principais campeonatos, títulos e torcida – de clubes de grandes cidades/metrópoles” (CAMPOS, 2020, p. 2).
Isso não ocorre deslocado dos movimentos de formação da sociedade brasileira do ponto de vista político-econômico, algo fundamental para entender quando se trata da relação de desigualdade do Nordeste para o Centro-Sul, com efeitos na difusão de clubes de futebol pelo território brasileiro, segundo ponto a ser contextualizado aqui.
Celso Furtado aponta em estudos e ensaios publicados dos anos 1950 aos anos 1970 que a relação comercial estabelecida a partir da falta de industrialização gerou distribuição de renda do Nordeste para o centro político-econômico do país. De maneira que, conforme interpretação de Diniz (2009, p. 238):
Por um lado, os superávits comerciais do Nordeste com o exterior eram utilizados para financiar as importações da região Centro-Sul do Brasil, beneficiando esta última. O crescimento e a concentração industrial na região Centro-Sul, a política cambial protecionista e a manutenção de uma economia primária no Nordeste faziam com que este importasse bens industrializados do Centro-Sul, a preços mais altos que os do exterior, e exportasse matérias-primas e alimentos para este, Centro-Sul.
Ao analisar o modelo brasileiro de desenvolvimento, Furtado (1972, p. 31) indica algo para a relação brasileira com os países mais ricos que se repete internamente quando se trata das elites nordestinas, especialmente:
Na medida em que o consumo da minoria de altas rendas deve acompanhar a evolução do consumo dos grupos de rendas médias e altas de países muito mais ricos – processo que é facilitado pela posição dominante das firmas internacionais na introdução de novos produtos e na direção da propaganda, os limitados recursos disponíveis para investimento tenderão a ser absorvidos na diversificação do consumo da referida minoria, em prejuízo do referido processo de difusão. Em consequência, a aceleração do crescimento do consumo dos grupos de altas rendas terá como contrapartida a agravação do subdesenvolvimento, na medida em que este significa disparidade entre os níveis de consumo de grupos significativos da população de um país.
A lógica segue semelhante mesmo com as políticas de distribuição de renda dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT), de 2003 a 2016. De acordo com Gomes (2014), o Nordeste não passou de 13% de participação no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, ainda que a concentração da população seja de 27,8%. Isso demonstra que se manteve as características de diversidade regional mesmo após o incentivo à retomada de políticas públicas específicas para o desenvolvimento da região, caso da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), recriada em 2007.
A construção desses processos de hegemonia também gera dependência em relação a elementos culturais como o do caso estudado aqui, pois “Trata-se de uma relação que, uma vez instalada, tende a perpetuar-se porque está inscrita na tecnologia e no conjunto dos processos econômicos e sociais, nos estilos de vida e padrões de cultura impostos pelas necessidades dos processos de acumulação de capital e de dominação” (BOLAÑO, 2015, p. 26).
Assim, não é estranho que sejam os clubes de Rio de Janeiro e São Paulo a terem torcidas consideradas nacionalizadas. O processo dessa constituição desigual gerou diferenças financeiras para disputa de torneios desse esporte ao longo das décadas, além das possibilidades de patrocínio aos clubes.
O outro ponto a ser indicado é analisar a transmissão midiática, cuja importância se dá porque “uma das condições para um clube ter sucesso esportivo e econômico é ter uma grande torcida” (CAMPOS, 2020, p. 116). É o engajamento dessa torcida que se torna capital relevante para adquirir mais receitas. Isso ocorre pela relevância da receita direta da transmissão ou outras geradas a partir da visibilidade daí decorrida.
Entretanto, quando as transmissões audiovisuais dos jogos ganham a regularidade que conhecemos hoje, as partidas transmitidas eram com a presença de times de Rio de Janeiro e São Paulo, fossem torneios estaduais, nacionais ou internacionais. Além de um histórico de transmissão radiofônica de times do Rio de Janeiro desde a década de 1940.
O histórico de desenvolvimento dos grupos midiáticos passa pelo desenvolvimento socioeconômico desigual no território brasileiro, com as matrizes desse tipo de empresa situando-se em Rio de Janeiro e São Paulo. Assim, os clubes desses dois lugares têm maior visibilidade nos noticiários esportivos que os das outras regiões (FIGUEIREDO SOBRINHO; SANTOS, 2020).
Em relação aos recursos de transmissão de jogos, que historicamente também beneficiam esses clubes. Para se ter uma ideia do quanto a receita daí decorrente movimenta de recursos, segundo o relatório de Convocados e XP (2022), a partir de dados financeiros do futebol brasileiro em 2021, R$ 6,6 bilhões foram as receitas totais de clubes que disputaram a Série A do Campeonato Brasileiro de 2020; R$ 900 milhões entre os clubes que jogaram a Série B. Do montante dos clubes da primeira divisão, R$ 3,478 bilhões foram decorrentes de receitas de transmissão, ou seja, 53% do total. Mesmo considerando um ano fora do normal, pois torneios de 2020 terminaram em 2021, de 2017 a 2019, as receitas de transmissão representaram 42% do total, com a negociação de atletas aparecendo em segundo lugar, com média de 20% do valor total (CONVOCADOS; XP, 2022).
Quando se trata do futebol enquanto programa midiático, é importante ressaltar que se trata de algo importante para a disputa da concorrência da transmissão audiovisual no Brasil. Porém, quanto menor a visibilidade da prática em determinado estado, menor interesse de marcas e grupos midiáticos por ele. Também por isso, é importante estudá-lo a partir do ponto de vista concorrencial e das demandas que este produto exige a partir das características de cada caso.
O reflexo desse cenário é que alguns clubes têm mais possibilidades de disputa de campeonatos nacionais e torcida espalhada para além de suas cidades originais. O que gerou no caso nordestino uma reação que é representante na força do torneio regional.
É a partir dessa discussão prévia que o presente projeto de pesquisa opta por analisar a Copa do Nordeste de futebol masculino. O torneio tem sua primeira edição considerada oficial em 1994, mas ainda sob organização do Governo de Alagoas, com a denominação de Taça Governador Geraldo Bulhões. O início do torneio com o nome que viria a ficar conhecido foi em 1997, dentro do cronograma da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de retorno de torneios regionais para serem a primeira disputa do calendário do futebol nacional, antes dos estaduais e do Campeonato Brasileiro.
A Copa do Nordeste chegou a se tornar “Campeonato do Nordeste”, em 2001 e 2002, mas parou na edição de 2003 pela mudança no perfil do calendário do futebol brasileiro, em que a Série A nacional passou a ocupar a maior parte do ano, sob o formato de pontos corridos. Organizadora do torneio, a Liga do Nordeste, formada pelos clubes da região, entrou com ação na justiça contra o fim do torneio mesmo com contratos de publicidade vigente, com acordo sendo estabelecido com a CBF em 2010, num torneio mais esvaziado, e entrando de vez no calendário do futebol brasileiro em 2013 – o único caso parecido de torneio regional é a Copa Verde, retomada em 2014 e que tem a presença de equipes do Norte, Centro-Oeste e do Espírito Santo.
Para isso, foi fundamental também o contrato de 10 anos assinado com a Top Sports, então proprietária do canal Esporte Interativo, que faria a transmissão da competição. Isso ocorre, segundo Santos e Bolaño (2016), em meio a uma estratégia de mercado para difundir torneios com pouca repercussão, evitando ainda a concorrência para adquirir os direitos de transmissão.
Além desses processos estruturais e midiáticos, interessa também observar que Nordeste é pensado por essa transmissão de nicho de uma partida de futebol. Considera-se, de antemão, tratar-se de uma região cujo imaginário é constituído quase sempre com características semelhantes, sem considerar diferenças entre os estados e dentro deles – também com efeitos de desenvolvimento desigual. Conforme Araújo (2018, p. 15), os discursos sobre a região normalmente refletem “o atraso, a escassez, a seca e, consequentemente, o estereótipo de derrotados. Tais imagens são, porém, utilizadas [também] como meio de motivador da resistência regional frente as demais regiões com disparidades com sua realidade em termos de progresso”.
Ainda segundo a autora, as imagens de representações sobre a região também são utilizadas para vender mercadorias e serviços, caso do que teria sido feito pelo Esporte Interativo, que teve “produções destinadas ao público nordestino […] carregadas de potencial simbólico para fidelizar o torcedor-espectador aos seus produtos” (ARAÚJO, 2018, p. 17)
Ao tratarmos sobre a questão da identidade a partir de um conteúdo midiático, é relevante apontar a análise sobre o “padrão tecnoestético”, pois trata é o elemento fundamental a ser construído, que pode garantir identidade e boa reputação à empresa, de maneira a conquistar o consumidor. Este padrão representa:
[…] uma configuração de técnicas, de formas estéticas, de estratégias, de determinações estruturais, que definem as normas de produção cultural historicamente determinadas de uma empresa ou de um produtor cultural particular para quem esse padrão é fonte de barreiras à entrada no sentido aqui definido (BOLAÑO, 2000, p. 235).
A compreensão de como tudo isso se dá interessa aos estudos do subcampo da Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (EPC) por se tratar de um objeto de estudo popular. Afinal, trata-se de “de uma mercadoria cuja fidelidade da audiência garante a atenção do mercado publicitário, tratando-se de um bem cultural simbólico de profunda importância” (BRITTOS; SANTOS, 2011, p. 2). De maneira que a pesquisa pode ainda auxiliar a difusão de um eixo teórico-metodológico crítico, que estuda as “as relações de produção capitalistas relativas à estrutura dos sistemas de mediação social, tendo por pressuposto o desenvolvimento das forças produtivas” (BOLAÑO; BASTOS, 2020, p. 177).
Dentro as categorias de análise deste subcampo está o desenvolvimento das barreiras à entrada específicas para os mercados infocomunicacionais: político-institucionais, mais voltada às decisões legais ou questões que envolvem regulação e leis; e as estético-produtivas, cuja análise se dá para analisar como a produção de determinado programa midiático é realizada, com a constituição de do padrão tecnoestético (BRITTOS, 2001). Em ambos os casos, a líder de mercado busca atrapalhar o desenvolvimento de concorrentes, sendo, portanto, questões importantes a serem observadas nesta pesquisa.
A partir deste contexto histórico e teórico, este projeto de pesquisa busca demonstrar a importância da Copa do Nordeste de futebol profissional masculino na disputa do capital esportivo no Brasil considerando os primeiros 10 anos de sua fase contemporânea (2013-2022) a partir dos três pontos de entrada da Economia Política no futebol, estudados por Santos (2014) desde descrição de Mosco (2009) para casos mais amplos: estruturação, espacialização e mercantilização.
A depender da possibilidade de constituição da equipe de pesquisa, o projeto deve perpassar elementos como: a estruturação da liga do Nordeste e seus parceiros para realizar o evento; a mercantilização do torneio a partir da constituição de uma marca ligada à região Nordeste, identificando os patrocínios conseguidos para sustentar financeiramente o torneio, mas também para a sua espacialização pela transmissão midiática; e estudo de caso com os clubes alagoanos que disputaram o torneio no período para verificar a importância econômica para eles, assim como questões ligadas à representação simbólica regional e específica de Alagoas.
Para isso, desenvolve-se pesquisa qualiquantitativa a partir de métodos histórico, descritivo e estatístico, tendo como base teórico-metodológica principal da revisão de literatura e para análise a EPC, especialmente seus estudos sobre o futebol. Trabalha-se como hipótese da pesquisa que: A transmissão de jogos por plataformas audiovisuais de difusão de conteúdo amplia as receitas e gera maior afeição torcedora aos clubes de futebol alagoanos.
Estudar o futebol se justifica especialmente pela necessidade de compreensão de uma prática de entretenimento e de lazer muito relevantes, quando se trata do acompanhamento do futebol profissional masculino. Isso ocorre na esteira de aumento de trabalhos a partir deste objeto de estudo especialmente a partir dos megaeventos esportivos no Brasil – dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, aos Jogos Olímpicos de Verão do Rio de Janeiro em 2016.
Ao mesmo tempo que faz parte de um projeto de pesquisa amplo, de maior fôlego do coordenador (SANTOS, 2014; 2019; 2021a; 2021b; SANTOS; BRILHANTES, 2014) de estudar a apropriação midiática do futebol como elemento importante de estudo ao observar que o acesso às partidas se dá a partir da mediação de uma plataforma tecnológica, desde o rádio até as plataformas de streaming ou de reação a vídeos de melhores momentos. Considerado um conteúdo social relevante por leis de diferentes países, como apresentado por Santos (2021b) para tratar de Argentina, Uruguai, México e Espanha, levantar os diversos efeitos disso também pode auxiliar os diferentes agentes envolvidos, incluindo o público torcedor.
Como a pesquisa é realizada a partir da perspectiva de uma região desenvolvida de maneira desigual ao Centro-Sul, mas especialmente por focar no Estado na periferia socioeconômica do país, pois os estudos de caso propostos tem o recorte para Alagoas, a análise ganha importância também pelo caráter ainda inicial no acompanhamento a partir desse objeto de estudo específico e, consequentemente, espera-se que se apresente resultados que possam auxiliar no melhor entendimento sobre as contradições e as melhorias necessárias para aprimorar a difusão enquanto programa/mercadoria.
Isso pode ser relevante para dar visibilidade para a UFAL, frente ao crescimento das pesquisas e redes de pesquisa em futebol. Em especial para a Unidade Educacional Santana do Ipanema, que pode vir a ser reconhecida como um polo importante de pesquisa numa perspectiva ligada à Economia Política da Comunicação aplicada ao futebol. Dada a sua perspectiva interdisciplinar, os resultados podem ser apresentados em diversos eventos e com possibilidade de publicações em periódicos científicos.
Espera-se contar com estudantes de Ciências Econômicas e/ou Ciências Contábeis da Unidade Educacional Santana do Ipanema, mas também com algum estudante de outro(s) curso(s) de áreas afins aos temas propostos na pesquisa, com destaque para os de Jornalismo, mesmo que de outro campus. O diálogo interdisciplinar é entendido como fundamental para a construção científica, possibilitando maior diversidade nas leituras e, também, na relação para as discussões coletivas.
Para os estudantes de graduação envolvidos no projeto, há ainda a importância de ter o primeiro acesso à pesquisa científica com um acompanhamento próximo do coordenador e com um planejamento previamente realizado. Espera-se que a experiência com uma investigação científica a partir de um objeto de perfil interdisciplinar, mas regional, auxilie no desenvolvimento de todos os processos relativos ao conhecimento sobre métodos e prática de pesquisa.
– Objetivo geral:
Analisar a Copa do Nordeste de futebol profissional masculino nos primeiros 10 anos de sua fase contemporânea (2013-2022) a partir dos três pontos de entrada da Economia Política no futebol: estruturação, espacialização e mercantilização.
– Objetivos específicos:
– Descrever a estruturação da liga do Nordeste e seus parceiros para realizar o evento;
– Analisar as diferentes possibilidades de mercantilização e espacialização do torneio especialmente na constituição de uma marca ligada à região Nordeste;
– Realizar análise de conteúdo de narrações dos jogos finais do torneio e de equipes alagoanas para verificar situações de espacialização de elementos de identidade local na transmissão midiática;
– Identificar a importância econômica da competição a partir do estudo de caso com os clubes alagoanos que disputaram o torneio no período.
Trata-se de pesquisa básica que tem como método de abordagem o dedutivo, por considerar a necessidade de contextualizar, a partir de revisão de literatura, a importância de um torneio regional de futebol no Nordeste a partir da construção simbólica do capital esportivo no Brasil, que segue a desigualdade socioeconômica regional.
Constitui-se como pesquisa qualiquantitativa, pois pretende-se utilizar estatística descritiva simples para análise a partir de método estatístico, com comparação de alguns dados numéricos; mas agregado a análise qualitativa para elaboração das informações sobre o torneio, que contará ainda com os métodos histórico, descritivo e comparativo, considerando ser um recorte histórico de 10 anos e que deve passar por diferentes clubes alagoanos para determinados objetivos específicos.
A revisão de literatura é considerada como elemento fundamental em qualquer investigação científica, logo, também estará presente nesta pesquisa. Marconi e Lakatos (2003, p. 183) informam ainda que é a partir de algo mais amplo quanto a isso, a pesquisa bibliográfica, que se determina o modelo teórico inicial, as variáveis e o plano geral da pesquisa, de maneira que “propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras”. Considerando isto, parte-se aqui da matriz teórico-metodológico do subcampo da Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (EPC).
Assim, esta pesquisa mobilizará pesquisas de distintas disciplinas científicas, em conformidade com o método aplicado pela EPC. De início, parte-se de uma análise mais geral sobre o desenvolvimento socioeconômico no Brasil, tendo como referência Celso Furtado e outros autores que partiram dele para analisar o Nordeste (FURTADO, 1972; DINIZ, 2009; GOMES, 2014). Em seguida, especifica-se para o processo de estruturação, espacialização do futebol (A. SANTOS, 2014; A. SANTOS; BRILHANTES, 2014; A. SANTOS; I. SANTOS, 2016), passando por objetos mais específicos que tratam da cobertura do futebol no Brasil (SANTOS, 2019; OSELAME; FINGER, 2013; FIGUEIREDO SOBRINHO; SANTOS, 2020; TELLES, 2020); sobre espacialização da região a partir da (transmissão da) Copa do Nordeste (FRAGOSO, 2013; VASCONCELOS, ABREU, 2015; A. SANTOS, BOLAÑO, 2016; OLIVEIRA, 2016; ARAÚJO, 2018, 2022); e também o específico sobre torcer em locais periféricos quanto à prática profissional do futebol (CAMPOS; TOLEDO, 2013; VASCONCELOS, 2014; CAMPOS, 2020; e, A. SANTOS, 2021a).
Agrega-se como procedimento para coleta de dados a pesquisa documental em fontes secundárias (sites noticiosos, de clubes e federações). Buscar-se-á ainda na coleta de dados as evidenciações contábeis dos clubes alagoanos que, no período recortado, estejam disponíveis de forma digital para, a partir dos dados disponibilizados, verificar a importância diretamente econômica do torneio.
O plano de trabalho demarca ainda pesquisa exploratória que se reparte em duas ações: levantamento da construção da identidade visual do torneio; e análise do padrão tecnoestético das transmissões.
Para o primeiro caso, propõe-se a coleta de dados em fontes primárias a partir de material de divulgação do torneio (mídias sociais de forma geral) e secundárias (sites e publicações científicas), tendo como parâmetro a descrição e análise feitas por Araújo (2018, 2022) e Santos e Araújo (2023).
Para o segundo, a proposta é utilizar em dois conjuntos de observáveis diferentes, último jogo do torneio em cada ano e amostra de um jogo de equipe alagoana por ano da competição. Será desenvolvido método de análise de padrão tecnoestético apresentado de forma provisória por Santos e Silva (2023).
Para a partida final da competição, pretende-se usar o segundo tempo completo. Quando não houver disponibilidade em plataforma gratuita, trabalhar com vídeo dos melhores momentos. Os seguintes elementos devem ser analisados para a partida final da competição: quantidade de câmeras e direção de imagens; variações no estilo de transmissão na direção de uma cobertura esportiva ao vivo pelo infotretenimento; (nos casos de segundo tempo completo) marcadores locais na narração, na reportagem e nos comentários; e divulgação de patrocinadores da transmissão e do torneio.
Para isso, propõe-se usar o primeiro tempo de jogos completos que estejam disponíveis em plataformas gratuitas de audiovisual, com um jogo por clube alagoano em cada edição a partir da fase de grupos, seguindo determinada ordem de prioridade: partida em fase eliminatória; jogo na fase de grupos contra equipes de Bahia, Ceará ou Pernambuco; clássicos estaduais; ou demais jogos. Se não houver jogo completo, utilizar vídeo dos melhores momentos do primeiro e do último jogo de cada clube em determinada edição do período recortado (2013 a 2022).
Propõe-se utilizar a Análise de Conteúdo para o que se tratará dos marcadores de linguagem oral na transmissão das partidas. A Análise de Conteúdo tem como objetivo, segundo Bardin (2009, p. 44), “obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens”.
As variáveis de análise podem ser reconstruídas no processo de pesquisa bibliográfica sobre o tema – ou aprimoradas até lá, tendo em vista que aproveitará de projeto ainda em andamento em que a definição dessas variáveis é um dos objetivos específicos –, de maneira que teremos casos semelhantes em nível e escala de análise (um mesmo torneio, mas em anos diferentes) e será possível construir equivalências válidas.
A utilização da comparação enquanto método numa perspectiva histórica possibilitará “verificar similitudes e explicar divergências” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 107). Ao mesmo tempo em que as variáveis de análise podem ser reconstruídas no processo de pesquisa bibliográfica sobre o tema, de maneira que teremos casos semelhantes em nível e escala de análise (um mesmo torneio, mas em anos diferentes) e será possível construir equivalências válidas, evitando simples causalidades, nos deixando distantes das preocupações demonstradas por Oliveira e Paulino (2017) para estudos comparativos nas Ciências Sociais.
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