Clubes querem a competição em pontos corridos, com uma necessária receita de participação
Por Anderson Santos
Série C também em pontos corridos, mas desde que haja pagamento de cotas de transmissão. Foi essa a notícia da semana passada após a assembleia dos clubes para definir ou confirmar o formato da terceira divisão brasileira em 2022.
Aguardei alguns dias para publicar um “. Com o que coloquei lá e a resposta a alguns dos comentários, este texto atualiza a discussão.
A minha ideia era mais falar da receita de participação, algo que defendi em texto nesta coluna no ano passado, que na mudança de formato. Porém, como a mudança na quantidade de jogos entra na discussão de receitas e despesas é algo natural passar por isso.
Antes dos meus comentários, sugiro ouvir o episódio “Bônus #1” do podcast Chama o Var, referência em Série C. Tratou-se muito bem dos possíveis ônus e bônus tanto da mudança de formato quanto das cotas.
Considerando a Série C com 20 clubes, a partir de 2009, é muito comum ler reclamações. Foi assim com quatro grupos com cinco equipes, com cruzamentos de acesso por proximidade geográfica dos grupos. Depois, pelo acesso vir em mata-mata após a primeira fase com dois grupos de 10 times.
O modelo vigente em 2020 e 2021, com classificação para dois grupos com quatro equipes cada, parecia ser o final das reclamações. Mas não, duas propostas apareceram para 2022: pontos corridos, ou seja, sem mata-mata; ou turno único, todos contra todos, continuando a passar oito para os dois grupos com quatro equipes.
Como me lembraram no Twitter, o modelo de regionalização é muito comum nas terceiras divisões de outros países, por isso a primeira fase dividida em grupos. Isso ocorre para cortar gastos, especialmente por ser uma divisão que normalmente mobiliza maior distância (inclusive fora de regiões metropolitanas).
Se não para 2022, mas talvez para o ano que vem sob novo contrato de transmissão, avalio que o modelo de turno único seja melhor. Vale a tentativa de ampliar a visibilidade pelas características próprias do Brasil, mas tentando buscar um parâmetro mais vendável para a competição como um todo.
Cito isso ao lembrar que a transmissão em TV aberta, com sublicenciamento para a Band, ocorre apenas para determinados lugares do país. Talvez uma competição com maior abrangência gere maior interesse.
Mas como pagar?
No texto anteriormente citado, apontei que era um absurdo que a Série C não tenha tido qualquer tipo de pagamento direto aos clubes (receita líquida) nas edições anteriores. Quando isso apareceu foi como “ajuda de custo da CBF”.
Naquele momento, apontei que era necessário reforçar a base da pirâmide do futebol masculino – além de citar algumas questões do futebol de mulheres. Com a CBF com muito dinheiro em caixa, não pesaria tanto.
Partindo da situação atual, de “campeonato deficitário”, seria necessário avaliar o contrato de licenciamento com a DAZN, que acaba neste ano. As duas propostas apresentam um aumento de datas e isso, muito provavelmente, não significará aumento proporcional de pagamento pela transmissão. Quero dizer, seria um aumento de partidas possíveis de transmissão para um mesmo valor – cerca de R$ 20 milhões.
Se dividir R$ 20 milhões pelos 20 clubes não daria o que os clubes pediram para ter o campeonato em pontos corridos – sem falar aqui nas despesas. Assim, uma das minhas hipóteses era que o pedido de R$ 4 milhões por clube seria o valor bruto, como há na Série B, o que daria cerca de R$ 2 milhões líquidos (em pontos corridos). É bem melhor que o “auxílio CBF” das últimas edições (R$ 400 mil em 2021), mas ampliaria o “déficit” do torneio, alegado pela entidade.
Mas temos um cenário diferente da CBF com o racha do grupo originariamente de Ricardo Teixeira e que passou a Del Nero. O atual presidente da entidade nacional, Ednaldo Rodrigues, presidiu a Federação Baiana e pode pensar de forma diferente em relação ao torneio.
Importante lembrar que a Série C contará com nove equipes nordestinas. Dentre elas está o Vitória, que sempre foi um dos clubes principais da Liga do Nordeste, não boicotando edições, por exemplo. Além disso, também tentou manter o privilégio da cláusula paraquedas quando caiu para a B em 2019. Algo que beneficiava apenas quem estava no Clube dos 13 e continuou assim nos contratos individuais da Globo de 2012 a 2018.
Não era difícil no ano passado e não é neste ano entender por que é necessário ter alguma receita por participação na Série C. Basta olhar para a queda do Santa Cruz ano passado, o histórico de dificuldades do América-RN ou a situação do Paysandu.
Houve atualização na proposta durante o final de semana. Quanto à fórmula, seguir o que era a Série B até 2005, turno único na primeira fase e duas fases com quadrangulares. Em notícia do site Diário Popular, o presidente do Ypiranga falou, inclusive, num valor menor de cota: R$ 1 milhão ou R$ 1,5 milhão.
A minha outra hipótese era de que os clubes teriam pedido R$ 4 milhões para ter algo garantido por participação, ainda que um pouco menor.
Quanto ao formato, os gastos para viagens serão maiores pelas distâncias (Manaus ou Campina Grande a Erechim ou Pelotas, por exemplo), mas só aumentaria uma rodada na primeira fase.
Vejo como mais razoável também pela distribuição do valor do licenciamento para transmissão, se ficar na base de R$ 1 milhão líquidos, mas com a CBF seguindo com a responsabilidade dos pagamentos estruturais.
Como todo comentário sobre receitas de torneios de futebol, é necessário fortalecer o campeonato como um todo para conseguir mais e maiores receitas. Com equipes de grandes torcidas locais como ABC, Botafogo-PB, Brasil, Campinense, Confiança, Figueirense, Paysandu, Remo e Vitória não deveria ser tão difícil.
SANTOS, Anderson David Gomes dos. Globo deve usar Lei do Mandante para exibir jogos da Série C. Pode? Trivela, São Paulo, 12 jan. 2022. Disponível em: https://trivela.com.br/na-bancada/as-possiveis-mudancas-da-serie-c-sao-viaveis/. Acesso em: 18 ago. 2023.
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